No início deste ano, várias vezes me lembrei do meu amigo
Nélson Páscoa, pela recordação de um dia de escola nos idos anos 80, como
tantos outros na vila mais bonita do mundo, parada (por vezes até demais…)
entre a Fóia e a Picota, onde se lembrou de partilhar connosco uma das máximas
de seu Pai:
“Não sei se vá, se fique! Não sei se fique, se vá! Se Vou não fico! Se fico não vou!”
Pois, como apostei no “Vou”, e não me apetece cantar, pelo
menos por agora, a “Grândola Vila Morena”, não me apetece escrever sobre o ato
do Pistorius, o “dedo espetado” do Bárcenas (imagino o Socrates a fazer o mesmo
no “Charles de Gaulle”!), o grande golo do Ronaldo ao Manchester, a Nossa Feira
dos Enchidos, o fabuloso golo de penalty do Lima contra a Académica (essa
filial do clube das Antas) ou nas “Amigas de Gaspar”, ou sejam as faturas,
resolvi partilhar convosco um texto de alguém que não sendo “Nostálico”, é
também Sério:
O
perigo das expectativas
Sempre
considerei as expectativas como algo necessário para a nossa evolução enquanto
pessoas, e ao longo da minha vida tenho sido confrontado com diversos conceitos
de expectativas. Expectativas pessoais, profissionais, amorosas, financeiras,
etc. Pode-se dizer que o mundo gira em torno das expectativas dos diversos
indivíduos que o constituem.
Algumas
semanas atrás o presidente de um banco português, constituído por capitais
públicos, ao falar sobre a austeridade em Portugal questionou “se os sem-abrigo
aguentam porque é que nós não aguentamos?”. Ora eu acredito que o ser humano
seja capaz de ultrapassar as maiores adversidades possíveis. Basta ver aquilo
com que nos deparamos nos últimos 100 anos, catástrofes naturais, guerras,
ditaduras, etc. Mas será que a forma mais fácil de ultrapassar um problema é
diminuir as nossas expectativas quanto aos resultados dessa solução? Por
exemplo, para melhorar a média das notas do ensino, basta apenas diminuir o
grau de dificuldade dos exames? Nos dias de hoje são muitas as facilidades que
temos, quando comparado com as gerações anteriores. A melhor forma que
descobrimos de evolução foi diminuir os nossos parâmetros, ou diminuir as
nossas exigências para com os outros e para connosco?
Se
queremos ultrapassar tempos de austeridade, como os que se vivem em Portugal,
não podemos ter a expectativa de que nós aguentamos mais austeridade. Isso é
pensar no curto prazo, e com tão grandes sacrifícios que nos são exigidos a
minha expectativa é que seja uma solução de longo prazo que afaste o fantasma
da austeridade por muitas gerações. Se queremos uma sociedade melhor, temos que
ser mais exigentes para connosco, assim como para os nossos representantes,
(políticos, etc.). O facto de o presidente de uma instituição bancária, dizer
que os portugueses aguentam mais austeridade, apenas porque os sem-abrigo
aguentam essa mesma condição, faz-me pensar que se a nós portugueses é exigido
apenas que sobrevivamos a estes dias, então o que é que os “nossos” líderes
exigem de eles próprios? Será que apenas pedem para aguentar o restante
mandato? Receber o ordenado no final do mês? Tornar o seu país num país melhor?
As
expectativas têm de ser geridas, mas temos que as colocar tão elevadas quanto
possível. Não ambiciono ver um astronauta português na lua. Apenas que
construamos uma sociedade melhor para as futuras gerações, assim como para nós
mesmos. Um reformado que trabalhou toda a vida, tem a expectativa de ter uma
reforma pacata, aproveitar os últimos tempos da sua vida. Os cortes nas
reformas, assim como o aumento dos preços de quase todos os bens de consumo
apenas dificultam as vidas destes. Nos dias de hoje o que acontece é que mimam
os novos e esquecemo-nos dos idosos. Assim as expectativas dos idosos não são
correspondidas e os mais novos vão ter expectativas muito elevadas. E se não
contribuímos para a melhor qualidade de vida dos idosos, quais as exigências
que podemos fazer para os nossos anos de reforma?
A vida pode vir a ser uma desilusão para os
mais novos. Quando a televisão nos faz acreditar que podemos ter/fazer tudo e
quando chegamos à vida adulta e vimos que não temos as armas suficientes para o
ter/fazer. É nestes momentos que tento redefinir as minhas expectativas. Mas
mais uma vez chego à conclusão de que são estas que me fazem chegar mais além.
Mas
voltando à temática das expectativas dos “líderes” portugueses, deparo-me com o
facto de que se neste momento apenas me exigem que eu aguente a austeridade,
tal como os sem-abrigo. Será este o melhor local para que eu continue a
desenvolver-me enquanto ser humano? Orgulho-me de ser português, e orgulho-me
do trabalho que temos feito pelo mundo fora, ao longo dos anos. Mas não me
orgulho daquilo que exigem de mim, enquanto cidadão, neste momento. Não
concordo com a exigência de sacrifícios, apenas porque falhamos enquanto
sociedade. São os erros que nos fazem encontrar a solução e não é penalizando
esses erros que podemos evoluir.
As
exigências da austeridade em Portugal, fizeram com que voltássemos a ser um
país de emigrantes, começamos a exportar a geração com melhores qualificações
académicas de sempre. Digamos que criaram nos jovens a expectativa de estudar
para depois poderem ter melhores cargos profissionais. Cargos esses não
disponíveis em terras Lusitanas. Vitimas da própria ambição, decidiram
abandonar o “barco”! As expectativas que a nossa sociedade nos deu, fez com
fugíssemos dela. É irónico!
E desta não estavam os
portugueses à espera.
Por isso temos que ser exigentes com os outros, tanto quanto somos com nós
mesmos. As expectativas fazem-nos seguir em frente, mas podem levar-nos a caminhos
diferentes dos esperados.
Um agradecimento ao autor deste texto, o Tiago Sério, e na “expectativa” de terem gostado,
despeço-me a alguns km/h, enviando também um abraço para Um Rosa em Timor…O Barco é o mesmo!
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