sábado, 2 de novembro de 2013

O Nostálico61


No início deste ano, várias vezes me lembrei do meu amigo Nélson Páscoa, pela recordação de um dia de escola nos idos anos 80, como tantos outros na vila mais bonita do mundo, parada (por vezes até demais…) entre a Fóia e a Picota, onde se lembrou de partilhar connosco uma das máximas de seu Pai:

“Não sei se vá, se fique! Não sei se fique, se vá! Se Vou não fico! Se fico não vou!”

Pois, como apostei no “Vou”, e não me apetece cantar, pelo menos por agora, a “Grândola Vila Morena”, não me apetece escrever sobre o ato do Pistorius, o “dedo espetado” do Bárcenas (imagino o Socrates a fazer o mesmo no “Charles de Gaulle”!), o grande golo do Ronaldo ao Manchester, a Nossa Feira dos Enchidos, o fabuloso golo de penalty do Lima contra a Académica (essa filial do clube das Antas) ou nas “Amigas de Gaspar”, ou sejam as faturas, resolvi partilhar convosco um texto de alguém que não sendo “Nostálico”, é também Sério:

O perigo das expectativas

Sempre considerei as expectativas como algo necessário para a nossa evolução enquanto pessoas, e ao longo da minha vida tenho sido confrontado com diversos conceitos de expectativas. Expectativas pessoais, profissionais, amorosas, financeiras, etc. Pode-se dizer que o mundo gira em torno das expectativas dos diversos indivíduos que o constituem.

Algumas semanas atrás o presidente de um banco português, constituído por capitais públicos, ao falar sobre a austeridade em Portugal questionou “se os sem-abrigo aguentam porque é que nós não aguentamos?”. Ora eu acredito que o ser humano seja capaz de ultrapassar as maiores adversidades possíveis. Basta ver aquilo com que nos deparamos nos últimos 100 anos, catástrofes naturais, guerras, ditaduras, etc. Mas será que a forma mais fácil de ultrapassar um problema é diminuir as nossas expectativas quanto aos resultados dessa solução? Por exemplo, para melhorar a média das notas do ensino, basta apenas diminuir o grau de dificuldade dos exames? Nos dias de hoje são muitas as facilidades que temos, quando comparado com as gerações anteriores. A melhor forma que descobrimos de evolução foi diminuir os nossos parâmetros, ou diminuir as nossas exigências para com os outros e para connosco?

Se queremos ultrapassar tempos de austeridade, como os que se vivem em Portugal, não podemos ter a expectativa de que nós aguentamos mais austeridade. Isso é pensar no curto prazo, e com tão grandes sacrifícios que nos são exigidos a minha expectativa é que seja uma solução de longo prazo que afaste o fantasma da austeridade por muitas gerações. Se queremos uma sociedade melhor, temos que ser mais exigentes para connosco, assim como para os nossos representantes, (políticos, etc.). O facto de o presidente de uma instituição bancária, dizer que os portugueses aguentam mais austeridade, apenas porque os sem-abrigo aguentam essa mesma condição, faz-me pensar que se a nós portugueses é exigido apenas que sobrevivamos a estes dias, então o que é que os “nossos” líderes exigem de eles próprios? Será que apenas pedem para aguentar o restante mandato? Receber o ordenado no final do mês? Tornar o seu país num país melhor?

As expectativas têm de ser geridas, mas temos que as colocar tão elevadas quanto possível. Não ambiciono ver um astronauta português na lua. Apenas que construamos uma sociedade melhor para as futuras gerações, assim como para nós mesmos. Um reformado que trabalhou toda a vida, tem a expectativa de ter uma reforma pacata, aproveitar os últimos tempos da sua vida. Os cortes nas reformas, assim como o aumento dos preços de quase todos os bens de consumo apenas dificultam as vidas destes. Nos dias de hoje o que acontece é que mimam os novos e esquecemo-nos dos idosos. Assim as expectativas dos idosos não são correspondidas e os mais novos vão ter expectativas muito elevadas. E se não contribuímos para a melhor qualidade de vida dos idosos, quais as exigências que podemos fazer para os nossos anos de reforma?

 A vida pode vir a ser uma desilusão para os mais novos. Quando a televisão nos faz acreditar que podemos ter/fazer tudo e quando chegamos à vida adulta e vimos que não temos as armas suficientes para o ter/fazer. É nestes momentos que tento redefinir as minhas expectativas. Mas mais uma vez chego à conclusão de que são estas que me fazem chegar mais além.

Mas voltando à temática das expectativas dos “líderes” portugueses, deparo-me com o facto de que se neste momento apenas me exigem que eu aguente a austeridade, tal como os sem-abrigo. Será este o melhor local para que eu continue a desenvolver-me enquanto ser humano? Orgulho-me de ser português, e orgulho-me do trabalho que temos feito pelo mundo fora, ao longo dos anos. Mas não me orgulho daquilo que exigem de mim, enquanto cidadão, neste momento. Não concordo com a exigência de sacrifícios, apenas porque falhamos enquanto sociedade. São os erros que nos fazem encontrar a solução e não é penalizando esses erros que podemos evoluir.

As exigências da austeridade em Portugal, fizeram com que voltássemos a ser um país de emigrantes, começamos a exportar a geração com melhores qualificações académicas de sempre. Digamos que criaram nos jovens a expectativa de estudar para depois poderem ter melhores cargos profissionais. Cargos esses não disponíveis em terras Lusitanas. Vitimas da própria ambição, decidiram abandonar o “barco”! As expectativas que a nossa sociedade nos deu, fez com fugíssemos dela. É irónico!

E desta não estavam os portugueses à espera. Por isso temos que ser exigentes com os outros, tanto quanto somos com nós mesmos. As expectativas fazem-nos seguir em frente, mas podem levar-nos a caminhos diferentes dos esperados.

Um agradecimento ao autor deste texto, o Tiago Sério,  e na “expectativa” de terem gostado, despeço-me a alguns km/h, enviando também um abraço para Um Rosa em Timor…O Barco é o mesmo!

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