terça-feira, 21 de abril de 2009

O sistema e a verdade sobre o Clube do Porto

O “sistema” está bem e recomenda-se. O “sistema” não dorme, raramente se distrai e a notícia da sua morte era exagerada. A história de construção do “sistema”, ou “polvo”, como quiserem, é mais ou menos conhecida, mas façamos uma breve viagem ao passado.
No início da década de 80, o clube do porto tentou montar um esquema que permitisse consolidar os campeonatos ganhos em 78 e 79, quase 20 anos depois do último título. O primeiro a perceber essa necessidade dava pelo nome de código de “Zé do Boné”.
A estratégia era amadora, embora inteligente. O alvo era o Benfica (aliás, o alvo sempre foi o Benfica e/ou o Sporting) e os jornais da época começaram a divulgar as célebres tiradas do Zé, entre as quais a histórica expressão dos “roubos de igreja”.
Escusado será lembrar que o grande “roubo de igreja” desses anos tinha dado o título ao clube do porto, em 78, quando o árbitro marcou um livre que não foi junto à área do Benfica, que deu o empate aos azuis e brancos, a 7 minutos do fim.
Com o desaparecimento do estratega-mor, entrou em campo o engenheiro-chefe, o gerente de caixa, o padrinho ou o papa – tudo nomes de código, claro. A estratégia mudou, foi mais burilada e mais adaptada aos tempos modernos.
O objectivo era o mesmo: tornar o Benfica um clube domesticado. Ao contrário do que muitos julgam, as benesses aos homens de negro eram apenas uma das peças de um puzzle variado e diversificado. Imaginação não faltava para aqueles lados.
Nem gente disposta a submeter-se por um prato de lentilhas, entre as quais, infelizmente, temos de contar com alguns ex-presidentes do Benfica e do Sporting, que por ignorância, negligência ou oportunismo, fizeram o jogo do inimigo.
O engenheiro-chefe foi paciente, meticuloso e sabichão. Aproveitando o declínio, por motivos políticos, de clubes do Sul, como o Barreirense ou a CUF, ou económicos, como o Portimonense (Clube que perdeu um jogo em casa com o Clube do Porto depois da bola ter saido claramente de jogo, o fiscal nada assinalar, e o Porto marcar o único golo do jogo. Sorte foi o trabalho que as cabeças do Papa e do Octávio deram aos médicos da cidade de Portimão, que agora vê o Portimonense com um presidente adepto do clube do Porto e alvo de muitas desconfianças, pudera, amigo do Papa!), tratou de “substituí-los” por clubes do Norte, que ascenderam à 1ª Divisão à custa da magnanimidade do grande clube do Norte. O exemplo mais paradigmático foi o Leça, mas outros podiam ser referidos (Tirsense; Famalicão; Felgueiras).
A dívida de gratidão era paga com enormes hinos à verdade desportiva que campeonato após campeonato o País assistia, com o beneplácito das autoridades desportivas – também elas já condicionadas pelo “polvo”, como a Federação e a Liga.
O passo seguinte foi o do empréstimo de jogadores a esses clubes, a esmagadora maioria com os seus salários a serem pagos integralmente pelo grémio azul. Volto a lembrar o exemplo do Leça, mas podia referir muitos outros, e só não o faço porque alguns deles pagaram bem caro o terem querido libertar-se do jogo azul e estão agora paulatinamente a regressar do inferno.
Era ver como estes jogadores emprestados se “empenhavam” nos jogos contra o clube do porto e sofriam uma metamorfose total quando defrontavam o Benfica e o Sporting. Era a verdade desportiva em todo o seu esplendor.
O puzzle estava ainda incompleto. Era preciso ir mais longe e mais alto. Aos árbitros? Ainda não. Aos observadores, aqueles que tinham por missão classificar os árbitros e, assim, fazê-los subir e descer de divisão ou, mesmo, torná-los “internacionais”, árbitros FIFA, com a consequente rentabilidade económico-financeira para os seus bolsos.
Assim, estes observadores, gente com necessidades básicas, eram sempre muito acarinhados pelo exército de voluntários ao serviço da missão papal. Nunca se saberá ao certo o volume das dívidas de gratidão que daí nasceram. Ou medo do Guarda Abel e do Toni Mau...
Mas há mais. A “cadeia alimentar” ainda estava incompleta. E os observadores, não tinham ninguém a quem obedecer? Claro que tinham: os delegados da Liga. Era então preciso condicionar estes delegados, para que tudo ficasse na ordem natural das coisas.
Depois, sim, lá teriam de vir os homens do apito, para que nada fosse deixado ao acaso. Este era o degrau mais complexo e mais perigoso. Porque o mais exposto. Era preciso muito tacto e muita disponibilidade.
Mas, claro, a coisa gozava de tanta impunidade que mesmo a melhor organização cometeu os seus deslizes: o “caso” do árbitro Francisco Silva (irradiado para ser o cordeiro de sacrifício essencial para esconder o “esquema” e desviar as atenções); a factura brasileira da viagem do senhor Amorim; a viagem ao Brasil dos Calheiros; e, por fim, os processos dos apitos (a fruta nas casas do Porto, onde saiu a ex-namorada do Papa, também amiga do actual presidente portista do Portimonense).
Porém, a máquina não se engasgou. O edifício era (e é) quase impenetrável. A teia e a rede de cumplicidades, promiscuidades, gratidões, dívidas, favores, envolvem milhares de nomes, nos mais diversos cargos – uns dependem dos outros. A escada nunca se quebra, nenhum degrau fica vazio.
Falo disto para lembrar uma tese que entra directamente no compêndio dos esquemas montados pelo “polvo”. Um esquema muito engenhoso e que tem enganado muito boa gente. A estratégia passa por prejudicar o Benfica e/ou o Sporting em alturas chave do campeonato e, depois, beneficiá-lo quando tudo está já decidido.
Esta época (e podia dar exemplo de todas as épocas) esta tese foi evidente no Benfica – Nacional, com o erro de Pedro Henriques; no Benfica – V. Setúbal, com a expulsão perdoada a um setubalense e o golo anulado ao Benfica); no Belenenses – Benfica (com 3 penáltis perdoados aos azuis do Restelo) e, exemplo máximo, no porto – Benfica, com o penálti marcado contra o Benfica (onde viu-se perfeitamente que o árbitro teve medo!). Em todos estes jogos, que o Benfica empatou, a vitória permitia alcançar o 1º lugar.
Já agora, não posso deixar passar em claro a justificação dada pelo animal do observador ao lance do penalti simulado do Lisandro. Transcrevo esta pérola:"Aos 25 minutos do 2.º tempo, marcou grande penalidade contra a equipa B [Benfica], por suposta falta do jogador n.º 26 [Yebda] (...) Do local onde nos encontramos e uma vez o lance ter ocorrido no vértice mais distante da grande área, não nos foi possível vislumbrar com clareza o desenlace da jogada: se a queda é provocada por algum contacto dos pés ao nível do terreno ou em virtude do defensor ter colocado o braço à frente do tronco do adversário, impedindo/perturbando a sua progressão. Porque o árbitro se encontrava bem colocado e perto, cerca de 3/4 metros, e foi peremptório a assinalar a grande penalidade, aliado ao facto de não terem existido protestos de jogadores da equipa penalizada, que aceitaram pacificamente a decisão, com excepção do faltoso, único a esboçar contrariedade, damos-lhe o benefício da dúvida".Ficamos a saber que se os jogadores de uma equipa não concordarem com uma decisão do árbitro, devem ser arruaceiros, protestarem bem, mostrarem a sua indignação, reclamarem com gestos, pressionarem o árbitro e fazerem muito barulho, pois caso contrário estarão a aceitar pacificamente a sua decisão, o que significa que concordam com ela. E eu que pensava que os jogadores deveriam acatar as decisões dos árbitros em vez de as contestar em campo. E são estas bestas que andam a classificar os árbitros.
O inverso também é verdadeiro. O porto é beneficiado em alturas chave. Querem melhor exemplo do que o da última jornada, em Coimbra, com o escandaloso penálti perdoado ao porto, com o resultado em branco?
O “sistema” ou o “polvo” tem muitas histórias para contar, mas ficamos por esta breve abordagem. É por isso que quem gosta de futebol não lhes pode dar tréguas. Ainda estamos a pagar o preço de algumas alianças espúrias entre o engenheiro-chefe e alguns dos nossos ex-presidentes. A esses, a História não os absolverá.
Para terminar, quem acredita na "estória" da fundação do Clube do Porto?
"Já estive algumas vezes para contar aqui a falsificação da história da data da fundação do Clube do Porto por parte de Pinto da Costa, bem demonstrativo da mentira e das fraudes usadas pelos responsáveis actuais desse clube. Este é um exemplo que demonstra bem a falta de verdade e a deturpação dos factos que tem sido uma regra da Direcção, passando até vergonhosamente por cima da história do clube e do seu fundador, atropelando a dignidade da instituição, tudo apenas para se afirmarem como o clube mais antigo de Portugal. Por atitudes destas é que são apelidados de clube regional, e provinciano. Passo a expor os factos:O Clube do Porto foi fundado em 2 de Agosto de 1906, por José Monteiro da Costa, tendo, durante 83 anos, sido esta a data com que se comemorava a sua fundação. Depois de 83 anos, a história do clube foi completamente alterada só porque alguém descobriu, através de uma notícia de um jornal de Lisboa de 28 de Setembro de 1893, que se fundara no Porto um clube denominado Football Club do Porto. Esse clube, fundado em 1893, teve uma curta duração e a última notícia que houve dele data de 11 de Março de 1894. Durou assim 6 meses, e nunca mais se ouviu falar desse clube. Pinto da Costa e o amigo do "Topo Gigio" foram buscar esta história para antecipar em 13 anos o centenário do clube, e assim poder comemorar o centenário antes do Benfica e do Sporting. Simplesmente ridículo, provinciano, um verdadeiro desprestígio a uma instituição e ao seu verdadeiro fundador, que merecem mais respeito, e acredito que alguém no futuro irá repor a verdade e a dignidade da história do clube e do seu fundador. No mandato de Pinto da Costa, em 1989, a data de fundação do clube foi alterada em assembleia-geral para 28 de Setembro de 1893. Pode-se dizer que, actualmente, o Clube do Porto não comemora a data da sua fundação mas sim a data da saída de uma notícia num jornal de Lisboa. Não passa pela cabeça de ninguém que José Monteiro da Costa, ao longo de mais de 80 anos unanimemente considerado fundador do clube (assim consta de todas as publicações, oficiais ou não, sobre o clube!), não soubesse que, afinal, o clube que estava a fundar já existia há 13 anos! Alguém acredita que um clube que apenas durou 6 meses, após 12 anos de completa inactividade, os desportistas seriam os mesmos? A única semelhança é o nome, e mesmo esse é diferente. A data da fundação do Clube do Porto é uma mentira, tal como tem sido uma mentira muitos dos títulos que conquistaram nos últimos 20 anos. O Clube do Porto, fundado em Agosto de 1906 por José Monteiro da Costa, começou a jogar num campo na Rua da Rainha. Em 1913, mudou para o Campo da Constituição, alugou o terreno e construiu o campo de futebol, onde certamente colocou o seu símbolo na parede, que perdura até hoje. Nos anos trinta, mudou novamente de campo, onde aparece aí a tal história do Sport Progresso (Amial) e dos andrades.O Foot-ball Club do Porto nada tem que ver com o Campo da Constituição. O símbolo do Clube do Porto, que está actualmente na parede do Campo da Constituição, foi criado em 1922 por um antigo jogador. Resolveu juntar ao símbolo antigo (uma bola azul), o brasão da cidade. O Campo da Constituição foi inaugurado em 1913 e o emblema do Clube do Porto foi criado em 1922."
Aliás, será que existe mais algum clube de futebol no mundo inteiro que tenha como simbolo/mascote um dragão (só podia ser algo mitológico, no meio de tanta aldrabice e corrupção)? O Estádio das Antas devia ter o nome de Bruce Lee (São golpes atrás de golpes...)!
Despeço-me com este video (sem comentários!):
http://www.youtube.com/watch?v=lZfmpMrqn2o

segunda-feira, 20 de abril de 2009

O Nostálico15

Nas férias da Páscoa, durante a viagem para Monchique, quando avistei a Serra, disse à minha filha Catarina:
- Estás ver a Serra de Monchique?
Ela respondeu:
- Qual delas?
Percebi que se referia à Fóia e Picota, e nem vos vou contar a dificuldade que tive em explicar-lhe esta questão aparentemente tão simples!

A Vila de Monchique, embora “instalada” na encosta da Fóia, tem à sua frente a magnifica vista da Picota.
Resolvi por isso dedicar este Nostálico às nossas duas montanhas!

Se uma visita ao alto da Fóia nos pode trazer em dias de boa visibilidade, o cabo de São Vicente, a baia de Lagos, a foz do Rio Arade em Portimão, a costa alentejana e até mesmo as torres de “fumo” de Sines (Se ainda existir quem duvide, tenho como testemunhas os meus companheiros bravos da equipa Nuno Alvares do agrupamento 383 do CNE de Monchique!), no “vulcão” da Picota temos a melhor imagem da nossa Vila, a possibilidade de ver o movimento dos aviões no Aeroporto de Faro e uma grande parte da costa algarvia “mediterrânica”.

No final da década de 80 surgiram dois projectos para rádio local em Monchique, Rádio Fóia e Rádio Picota. Quase que pareciam dois clubes rivais! Sport Lisboa e Fóia de um lado e Sporting Clube da Picota de outro (obviamente que não existia espaço para o Futebol Clube da Marioila!).
Eu próprio, à data, “devorei” com todo o interesse os objectivos de cada projecto publicados no JM, não conseguindo tomar uma posição (cuidado, porque no que diz respeito ao futebol, a minha posição seria sempre na Fóia!), até porque nasci na encosta da Picota, onde vivi até aos meus quatro anos, tendo depois vivido na encosta da Fóia até aos dezanove anos.

Falar na Rádio Picota fez-me lembrar o “mestre” José Glória que marcou uma geração de jovens no final dos anos 80, inicio dos anos 90, com o “seu” Travessa, local de culto da geração Monchiquense nascida principalmente entre 1965 e 1975, onde assistimos a passagens de modelos, onde se organizaram festas incríveis, e onde invariavelmente começavam e terminavam noites memoráveis (mesmo que “O Travessa” estivesse fechado, havia sempre um “Gelati Motta” para consolar o estômago!), sempre com o apoio e cunho pessoal do Sr. José Glória, grande Benfiquista (ficou por cumprir um sonho comum de uma casa do Glorioso em Monchique), a quem envio um forte e saudoso abraço, onde quer que ele esteja.

Voltando às duas montanhas da Serra de Monchique, qualquer uma delas com um potencial turístico elevadíssimo, ainda acredito numa ligação/estrada em condições para a Picota, de onde todos podiam ficar deslumbrados com a maravilhosa vista sobre a serra, sobre a vila de Monchique e sobre a futura pousada histórica de Portugal construída a partir das ruínas do Convento de Nossa Senhora do Desterro, podendo ser utilizada a coincidência do seu fundador, Pêro da Silva, ter sido posteriormente Vice-Rei da Índia, para uma “colagem” à cultura de Goa.
Se num Nostálico anterior referi o castelo da Pedra Branca, obviamente que não querendo relativizar o interesse deste último, a prioridade cultural do nosso concelho, na minha humilde opinião, seria sempre a reabilitação do espaço do Convento, quer fosse como Pousada ou como outro fim qualquer, mas diferente daquele que todos conhecemos desde que nascemos!

Não consigo fechar este Nostálico sem partilhar convosco um episódio ocorrido numa actividade do CNE de Monchique, no final da década de 80, quando num jogo nocturno, a memorável equipa “Águia” resolveu “entrar” no espaço do Convento vestida a rigor, ou seja, como frades franciscanos, cantando:
“Adoramus te Domine!”
Hoje, reconheço que fazia aquela subida para o Convento no meio daquelas árvores altas, que ainda faziam a noite mais escura do que estava, cheio de medo, não tivesse ainda para mais, assistido dias antes ao filme “O nome da Rosa”, baseado na obra do escritor Umberto Eco!

“Lasciare il 80/h fino alla próxima”
Bem hajam.