quinta-feira, 8 de julho de 2010

O Nostálico29

“Ayoba Portugal! Ayoba Monchique!”

Esta não será uma crónica de viagem de um rapaz de Monchique que aproveita o verão para sair do País, como escreve o nosso amigo Luis Baiona, mas sim uma crónica de viagem de um rapaz de Monchique que aproveita as fases finais de campeonatos do mundo e Europa para sair do país (excepto no Euro 2004), e apoiar a selecção Nacional de futebol.

Desde a presença da selecção das quinas no Euro96 em Inglaterra, que em conjunto com um grupo de amigos, aproveito as fases finais para assistirmos ao vivo a jogos da nossa selecção.
Já tive oportunidade de escrever em anteriores “nostálicos” algumas passagens relacionadas com estes eventos, recordando “nostálicamente” a viagem entre Londres e Sheffield, para assistir ao Portugal-Dinamarca, num mar verde e encarnado, a memorável noite na catedral da luz, depois de eliminarmos a Inglaterra nos penalties, a noite de música Portuguesa no restaurante “Vasco da Gama” em Gelsenkirchen, antes do Portugal-México e por último, a oferta de um cachecol a uma emigrante Portuguesa em Genéve, depois do Portugal-Turquia, que mais parecia a oferta da taça do mundo.
Enfim, momentos inesquecíveis onde marcamos a nossa presença, porque aderimos à participação nestes eventos organizados pela FIFA e pela UEFA.

Por isso, e como à data da escrita deste texto ainda não é possível saber o resultado do Portugal-Espanha, resolvi partilhar com os leitores do JM a viagem à África do Sul com os mesmos parceiros de sempre, para assistirmos ao Portugal-Coreia do Norte na Cidade do Cabo e Portugal-Brasil em Durban.
Obviamente que o resultado de 7-0 no Cabo, e o empate a “0” com o Pentacampeão em Durban não nos pode deixar a nós, Portugueses, envergonhados, mas como as escolhas, a táctica e a forma de estar do nosso seleccionador já foram largamente debatidos, e nada consensuais, julgo ser mais interessante deixar escrito outras passagens desta viagem, que não vulgos comentários futebolísticos.

A chegada ao aeroporto da Cidade do Cabo, vindos de Joanesburgo, apenas é comparável, em beleza vista do ar, à aterragem no aeroporto do Rio de Janeiro, e do nosso aeroporto da Portela, em Lisboa.
A Cidade do Cabo é fantástica, mas se no alto da “table mountain” temos uma vista única, e no cabo da boa esperança deixa-nos com uma ponta de orgulho, o local de referência desta cidade é sem dúvida “waterfront”, e a este local convergem os adeptos da maioria das selecções dos países presentes neste campeonato do mundo.
O policiamento é elevado, o movimento naquelas pequenas ruas e pracetas junto ao oceano é indescritível, e a possibilidade de tão depressa fazermos uma refeição sul-africana, ou uma Portuguesa no restaurante “Tasca de Belém” é algo que apenas é possível em locais universais, como se tornou aquele espaço na Cidade do Cabo.
Não tivemos oportunidade de visitar a “Robben Island”, onde Nelson Mandela esteve preso, mas o facto de ficarmos alojados no Hotel “Breakwater Lodge”, próximo de “Waterfront”, deixou-nos um pequeno sabor do que terá sido o “Apartheid” naquele distante país, dado tratar-se de uma antiga prisão transformada em hotel museu.

Durante a viagem entre o Cabo e Durban tivemos a oportunidade de privar com o jornalista do jornal “A Bola”, José Manuel Delgado, que inclusivamente publicou uma reportagem na edição deste jornal do dia seguinte sobre as diferentes histórias que ouviu nessa viagem, incluindo a nossa.
A convicção era enorme após a goleada do Cabo, e a recepção em Durban foi divertidíssima, porque qualquer sul-africano cumprimentava-nos elevando sete dedos das mãos, e nós respondíamos “Ayoba”, deixando-os ainda mais felizes, fazendo votos para que fosse a nossa selecção a elevar a taça, dado que os seus “bafana bafana” já estavam fora.

Durban tem uma comunidade Indiana muito elevada, dizendo-se que é a cidade com mais indianos fora da Índia, sendo mais habitual nos restaurantes e bares de “Florida road” a presença de inúmeros “Quéfrô?”, do que nos cafés das docas do Tejo.
Toda a festa do mundial nesta cidade centraliza-se junto às praias, onde se cruzavam tantos adeptos “canarinhos” e “tugas”, como os negros e indianos de Durban.
O ambiente que rodeou o Portugal-Brasil em Durban foi excelente, principalmente junto do estádio nesta cidade, e tal como no Cabo, qualquer um destes dois estádios ficaria bem num dos países da Europa Ocidental.

A organização deste mundial está perfeita, e à pergunta de um casal de sul-africanos brancos, indignados com a ideia existente na Europa de um País perigoso, sobre um nosso presumível regresso ao seu Pais, a nossa resposta foi positiva, mas de uma forma politicamente correcta, porque a África do Sul não é apenas “Waterfront” na Cidade do Cabo e “Golden Mille” em Durban! E isso também se consegue ver…

Despeço-me até à próxima, esperando não ser “obrigado” a “malhar” no Queirós nessa oportunidade. “Ke nako”…